Se você não perde a oportunidade de beber uma boa dose de pinga, aguardente ou cachaça, é importante saber quais são as diferenças entre elas. Em entrevista ao Portal da Band, Isadora Bello Fornari, consultora de bebidas e especialista em cachaça, explica quais são os processos de fabricação dos líquidos e tira as principais dúvidas sobre o tema.
De acordo com ela, a famosa pinga, birita ou caninha nada mais é que um nome popular para a cachaça, nomeação técnica e legal para o destilado à base de caldo de cana fresco, produzido com exclusividade no Brasil, envelhecido ou não. “Isso é cachaça, todos os outros nomes são apelidos que a bebida foi ganhando ao longo da história como resultado de fatores sociais, culturais ou econômicos”, justifica.
"Toda cachaça é uma aguardente, mas nem toda aguardente é uma cachaça", completa a especialista. “A pinga tem especificações e determinações técnicas, como ter de 38% a 48% de álcool, não poder receber infusão de nada e ser feita exclusivamente no Brasil. Qualquer destilado, de alguma outra coisa, se você pega a bebida e coloca uma fruta dentro, por exemplo, deixa de ser cachaça.”
Embora considerada simples, a cachaça tem uma das legislações mais rígidas do mundo para a sua categoria e só foi descrita conforme a explicação acima em 2003. A aguardente, por sua vez, é um destilado que não tem detalhes técnicos específicos, podendo ser, por exemplo, uma tequila, um licor ou um rum.
Ainda de acordo com a lei, a pinga deve apresentar características de sua matéria-prima. “Diferente de um gim ou vodka, que tem neutralidade como primeiro fator e nascem de destilados neutros, a cachaça é o oposto. O gin e a vodka, para se ter uma ideia, não podem passar de 50 elementos sensoriais, já a pinga tem que ter no mínimo 250. A média, no entanto, é de 500 ou 600.”
Cachaça de história e tradição
Por muito tempo, desde o início da colonização dos Portugueses, a cachaça foi desvalorizada no Brasil. “Ela era vista como uma coisa de ralé e do inferior. Isso aconteceu justamente porque os portugueses queriam que a gente consumisse produtos de Portugal e não o que era feito aqui", diz Isabela. "Isso perdura até hoje, é resultado de um preconceito gigante. Quando a família real chegou ao Brasil piorou ainda mais a situação. A bebida sempre foi algo do universo mais simples e graças ao samba e as religiosidades ela se manteve.”
Segundo a pesquisadora, o destilado à base de cana, seja ele melaço ou fresco, esteve na história do Brasil como um cúmplice para todos os momentos. “A cana de açúcar foi o segundo ciclo colonial do nosso país. Muitos canaviais e engenhos foram construídos a partir do valor que tinha o açúcar. A cachaça só começou a ser feita com caldo de cana fresco depois que o ciclo do açúcar teve sua queda e não valia mais tanto dinheiro.” Explicações para não errar mais, ein!