A comida brasileira traz influências de vários povos. E muito do sabor que hoje define a culinária nacional é originário da África. Segundo a pesquisadora da cozinha ancestral africana Aline Chermoula, a população escravizada que chegou ao Brasil tentou reproduzir sua alimentação de origem com ingredientes que tinham. A partir disso, muitas receitas novas surgiram.
“Quando investigamos a história dos alimentos, percebemos que muito do que temos hoje na nossa alimentação é originário do continente africano, mas a gente nem sabia. E nos apropriamos de uma maneira tão profunda, como se fosse nosso”, explica ela no episódio do Minha Receita sobre o tema.
Por muitos anos, ingredientes africanos chegavam ao Brasil pelas mãos dos portugueses, que faziam expedições para a Índia e passavam pela África. No entanto, a cozinha africana era vista na América como cozinha da diáspora, de um povo que foi forçado a migrar. Quem nutria o Brasil colonial eram as pessoas mantidas como escravas, nas lavouras, e aquelas que trabalhavam na cozinha da Casa-Grande.
A comida foi também um meio de conseguir a liberdade. Mulheres escravizadas vendiam quitutes em tabuleiro para comprar a alforria.
Segundo a historiadora Ynaê Lopes, é importante lembrar que a África é um continente formado por 54 países, que têm aproximadamente 1 bilhão de pessoas e uma pluralidade cultural imensa, já que, historicamente, os povos africanos se organizam em pequenas e micro sociedades. “O tráfico de africanos escravizados para o Brasil foi muito amplo e abarcou diferentes localidades do continente africano. Então podemos falar em três grandes áreas. A gente tem a África centro-ocidental, formada por Senegal, Benin, Nigéria, Togo, Camarões. Tem a África Central, que hoje seria Congo e Angola. E já pro final da vigência do tráfico, a gente começa ter um fluxo de africanos que chegam da Costa Leste, de Moçambique. Então a gente tem uma grande variedade de origens africanas no País”, detalha.
O sociólogo Gilberto Freyre listou um cardápio com algumas das contribuições africanas ao Brasil, como o azeite de dendê, pimenta-malagueta e quiabo. Além disso, teve também o maior uso da banana, e as comidas portuguesas ou indígenas que ganharam condimentos ou técnica culinária do povo negro, tipo farofa, vatapá, cuscuz.
É fato: não existe culinária brasileira sem o trabalho e os sabores dos africanos.