Falar de Brasil é falar dos povos originários. No Sul da Bahia, a Txag'rú Mirawê é uma das comunidades indígenas que resistem em solo brasileiro — são mais de 300 povos espalhados pelo país — e ecoam suas memórias ancestrais aos turistas e nativos que se interessam pela cultura Pataxó.
Quem nos guia pela comunidade na beira da estrada próxima à Praia da Coroa Vermelha, em Santa Cruz de Cabrália, é Makiame Kahtãgá, o próprio líder da aldeia — estes são os títulos usados pelos povos desta comunidade. É ali que, entre os fortes batuques de tambores tãpo e o suave som do rio, o Pataxó revela como é a alimentação da Txag'rú Mirawê em um papo descontraído.
Como em muitos estados brasileiros, o ritual de alimentação começa pelo café preto. "Comemos muita fruta. Às vezes, um pedaço de bolo de puba", diz Makiame, que não dispensa um bom coado e chás (de pitanga, laranja, capim-santo ou erva cidreira, de preferência).
A alimentação mudou aos longos dos anos por conta a urbanização, que incluiu os industralizados na vida dos indígenas. Segundo o chefão, os hábitos alimentares eram mais nutritivos, apenas à base de raizes como a batata e o aipim.
Vivíamos mais antigamente. Quando um Pataxó morria aos 80 anos, a gente dizia que ele se foi jovem
A facilidade do mercado veio acompanhada também dos aditivos alimentares. Arroz e feijão, dupla de alimentos consumidos diariamente por grande parte dos brasileiros, são servidos com moderação pelos Pataxós pelo excesso de química nos grãos, por exemplo.
A grande aposta da Txag'rú Mirawê e dos outros Pataxós no Sul da Bahia são os peixes, que vêm acompanhados da farinha de mandioca e da farinha de puba em praticamente todas as refeições. Makiame garante que "com um gole de água, ela estufa na barriga e qualquer um se sente nutrido pelo dia inteiro".
Outra curiosidade é que a alimentação dos Pataxós nao leva muito tempero — praticamente nenhum, aliás, apenas sal. "No máximo umas folhinhas de hortelã. Aprendi isso com a minha avó para que a gente sinta o verdadeiro sabor da comida, que é leve e nutritiva", conta o líder da aldeia.
Para estes povos, todo alimento é sagrado, seja fruto da terra ou da caça. Makiame conta que o animal é honrado desde a caça, que é sem armadilhas e com abate rápido para evitar o sofrimento dos bichos.
A caça faz parte da nossa história
A jornalista viajou para o Festival Temperos de Cabrália a convite da Secretaria de Turismo de Santa Cruz Cabrália, que teve apoio da SEBRAE, Porto Azul Receptivo e Azul Viagens.