Segundo os dados da Organização Internacional do Cacau (ICCO), desde 2021, o mundo deixou de produzir 758 mil toneladas do fruto. O Brasil, que importa 80% do que consome, sente o impacto no bolso do consumidor e nas prateleiras do mercado.
Por que o cacau está tão caro?
O problema está na África Ocidental, responsável por 70% da produção mundial de cacau. Países como Costa do Marfim, que detém 45% do mercado, enfrentaram secas severas e pragas que reduziram significativamente suas safras.
A queda na produção é causada pelas árvores africanas, que estão envelhecendo e se tornam mais suscetíveis a doenças. Isso levou a uma redução de 30% a 35% na produção, que representa entre 70% e 75% do fornecimento global de cacau.
Como consequência, os preços do cacau em Nova York subiram de uma média de US$ 2.000 para acima de US$ 7.000, atingindo o recorde histórico de US$ 12.000 em abril deste ano — um salto de 163% em um ano.
Já que esse preço é definido globalmente, o Brasil, que produz apenas 4% do total mundial, não escapa da crise.
Páscoa com menos ovos (e não apenas em quantidade)
Parece que o dulçor que a data comemorativa carrega ficará apenas nas delícias produzidas por grandes marcas e confeiteiros criativos que precisam driblar a crise do cacau, como César Yukio, campeão do MasterChef Confeitaria.
“O único presente que as pessoas dão na Páscoa é chocolate, então, ninguém vai deixar de comprar ou de ganhar presente. O jeito é diminuir o tamanho dos ovos e focar em lembrancinhas que usem menos chocolate, como bombons e pão de mel”, disse o chef-confeiteiro.
Já o prognóstico de Anna Paula Losi, presidente-executiva da Associação Nacional das Indústrias Processadoras de Cacau (AIPC), sugere que os impactos da crise global vão além da Páscoa de 2025: "Cada ano, o cacau se tornará um produto cada vez mais escasso", prevê a especialista.
Plano de ação
A crise do cacau pode ser em outro continente, mas, para o Brasil, que importa 80% do cacau que consome, os efeitos dessa crise batem na porta. A Associação Brasileira da Indústria de Chocolates (Abicab) projeta a produção de 45 milhões de ovos de Páscoa em 2025, uma queda de 22,4% em relação a 2024.
Empresas de chocolate em regiões como Gramado, no Rio Grande do Sul, estão ajustando suas estratégias para enfrentar o aumento dos custos. Algumas reduziram o tamanho dos produtos e absorveram parte dos custos para evitar repasses integrais aos consumidores.
Losi reforça que o plano de ação das organizações brasileiras para os próximos anos é reduzir a dependência das importações e recolocar o país entre os maiores produtores de cacau do mundo.
“Estamos lutando contra a importação de cacau. Precisamos mudar o cenário”