Gelatos e acessibilidade: sorveteria em São Paulo é comandada apenas por funcionários surdos

Estabelecimento nasceu em Sergipe e também tem unidade na Bahia; ator André Vasco é um dos sócios

Danielle Vieira

Gelatos e acessibilidade: sorveteria em São Paulo é comandada apenas por funcionários surdos
Gelatos e acessibilidade: sorveteria em São Paulo é comandada apenas por funcionários surdos
Reprodução/Il Sordo SP/Instagram

Não falamos, mas nos entendemos”. A placa com esta frase, localizada na recepção da sorveteria Il Sordo, em São Paulo, resume bem a proposta do estabelecimento. Trata-se de uma empresa inclusiva, onde todos os funcionários, dos que produzem os gelatos aos que atendem, são surdos. 

Inaugurado em maio de 2024, o espaço é a expansão do negócio criado por Breno Oliveira em Sergipe, e fica localizado no bairro de Baixo Pinheiros, em São Paulo (SP). Uma terceira unidade também opera em Salvador (BA) e, entre os investidores, está o comunicador e apresentador André Vasco.  

Em 2015, ele descobriu uma perda auditiva e, durante visita a Aracaju (SE), cidade onde vive sua família materna, conheceu o espaço fundado por Breno, surdo de nascença. Na primeira unidade da Il Sordo, 80% dos colaboradores são surdos e os outros 20% são ouvintes que aprenderam LIBRAS, a língua brasileira de sinais. 

"Quando visitei a gelateria, me encantei, me emocionei e chorei. [A ideia] me tocou muito porque eu havia recém-descoberto minha perda auditiva. Hoje uso aparelho auditivo porque tenho uma perda em timbres médios e agudos”, conta André em entrevista exclusiva ao Band Receitas

Ao voltar para São Paulo, encantado com o que viu, o comunicador entrou em contato com o amigo de infância Felipe Paladino, que lhe fez uma proposta para replicar a ideia na cidade. Depois de muitas reuniões, a sociedade foi firmada e muito celebrada: 

“O propósito é lindo. O gelato é perfeito, nível melhores gelaterias de São Paulo”. 

O nascimento da Il Sordo em Sergipe  

Quando criou a Il Sordo, Breno vivia uma fase difícil. Após 3 anos trabalhando em uma empresa, foi demitido e teve muita dificuldade para conseguir novas oportunidades. Na época, em meio ao preconceito que sofreu, decidiu fundar o próprio negócio. Incentivado pelo pai, fez um curso de gelato e começou no segmento em 2015. 

Segundo ele, “emoção” é a palavra que define tudo o que aconteceu desde o início da parceria com André Vasco e Felipe Paladino. “Eles são pessoas muito empáticas e que acreditam fortemente na proposta da minha marca. E eu também aprendo muitas coisas com eles, para fortalecer mais a marca", explica também em entrevista ao Band Receitas.  

Breno celebra o poder de transformação da empresa: “A maioria (das pessoas) achava que Il Sordo parecia caridade, mas não é. É uma empresa que mostra que qualquer pessoa pode fazer e ser mais humana”. 

 Um lugar para todos 

Com poucos meses de operação, a unidade paulistana se tornou um sucesso na região sul da capital, sendo visitada e recomendada, nas redes sociais, por centenas de pessoas. Entre eles, muitos influencers PCDs. No Instagram, a marca já acumula quase 30 mil seguidores.  

Longe das redes sociais, no prédio da rua Coropé, vídeos exibidos em monitores ensinam os clientes a fazerem o pedido em LIBRAS. O material informa desde o sabor escolhido até o tamanho e o recipiente no qual o conteúdo será servido. Também ficam disponíveis instruções sobre os acompanhamentos e a forma de pagamento. Quem preferir pode apontar para as opções desejadas ou escrevê-las na tela de um tablet.  

Especialista em gelato, a loja tem opções para todos os gostos. "Tudo é feito aqui. Do brownie a casquinha, passando pelas tortas e pelos steccos [sobremesa geladinha no palito, como um mousse]. Usamos apenas o que há de melhor de matéria prima: frutas frescas, inclusive algumas de Sergipe, como mangaba, umbu, seriguela e jenipapo. Além disso, temos uma variedade grande de produtos para veganos, diabéticos e intolerantes a lactose. Somos inclusivos em tudo”, explica Vasco. 

Na hora do pedido, é possível escolher se o gelato será servido à moda italiana, na casquinha (a partir de R$ 16,90) ou em um copinho. Os tamanhos vão do mini (R$ 16,90) ao grande (R$ 34,90). O cardápio também conta com steccos [sobremesa geladinha no palito com consistência de mousse] (R$ 15,90), brownies (R$ 9,90) e tortas (pedaço, R$ 16,90). As bebidas, por sua vez, são quentes e ficam por conta da parceria com o “Café por Elas”, empresa gerida apenas por mulheres. 

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