Quem são as mulheres que comandam a nova gastronomia brasileira?

À frente de restaurantes premiados, Luana Sabino, Mari Sciotti e Telma Shiraishi comentam a experiência coletiva de ser mulher na cozinha profissional; leia entrevista exclusiva ao Band.com.br

Por Júlia Cabral

Quem são as mulheres que comandam a nova gastronomia brasileira?
Luana Sabino, Mari Sciotti e Thelma Shiraishi
Divulgação/Arquivo Pessoal

Lugar de mulher é na cozinha, mas não do jeito que nos ensinaram. É na cozinha profissional, em posto de liderança, construindo o que chamamos de nova gastronomia — clássica ou contemporânea, mas que representa muito bem a diversidade brasileira.

Luana Sabino, do Metzi, Mari Sciotti, do Quincho, e Telma Shiraishi, do Aizomê, são alguns dos nomes das chefonas que estão em destaque na gastronomia nacional. Em entrevista exclusiva ao Band.com.br, as premiadas comentaram sobre o impacto de ser mulher neste espaço dominado por homens. Leia mais:

Luana Sabino

Anote este nome. Luana Sabino é quem comanda o melhor restaurante latino-americano de São Paulo. Ao lado do companheiro Eduardo Ortiz, natural de Oaxaca, no México, a paulista faz mágica na cozinha sendo "a parte brasileira" da casa, como ela mesma gosta de dizer.

Com passagens no Arturito, Tuju e Cosme, ela, que já ostentava um currículo impressionante, se tornou um dos destaques femininos da gastronomia nacional ao dar vida ao Metzi, restaurante mexicano com toques de brasilidade no bairro de Pinheiros, em São Paulo.

Luana estuda a cultura mexicana há mais de seis anos, época em que se apaixonou por Mezcal e resolveu se aprofundar no conhecimento do destilado conhecido como a "prima" da tequila, se tornando a primeira sommelière da bebida no Brasil.

Ser mulher já é uma dificuldade desde sempre, antes mesmo de pensar em ser cozinheira. Agora, o mundo está olhando mais para as mulheres, mas no dia a dia a cozinha ainda é um ambiente predominantemente ocupado por homens. Temos que chegar a um equilíbrio

Mari Sciotti

A mente por trás do Quincho é de Mari Sciotti, uma paulista formada em moda que, antes de abrir um dos restaurantes vegetarianos mais concorridos de São Paulo, nunca tinha considerado trabalhar em uma cozinha profissional.

"Sigo na batalha que é empreender no Brasil, mas me sinto muito vitoriosa com a trajetória que tracei até aqui", diz a premiada — e mãe, cozinheira, mente criativa, rainha do lar e amante das manhãs, como se descreve nas redes sociais.

Acho que homens conseguem agregar mais valor a si do que as mulheres. A tal da autoestima do homem mediano: pelo básico, se sentem muito, e são lidos de tal maneira, enquanto mulheres precisam ser “exceção” ou acima da média para que tenham o mesmo reconhecimento

Pensando no futuro, há o desejo de ver mais mães ocupando cargos de chefia. "Nada afeta tanto a carreira de uma mulher quanto a maternidade. É uma pauta importantíssima quando falamos das dificuldades encontradas pelas mulheres no mercado de trabalho", contempla a empreendedora.

Telma Shiraishi

Ela largou a faculdade de medicina na USP para desenvolver seu lado artístico. Trabalhou como assistente do estilista Fause Haten, participou de criações de coleções exclusivas, deixou a moda e foi migrando para a cozinha – interesse pelo qual realmente sentia paixão. 

Abriu o Aizomê. Foi eleita a primeira mulher "Melhor Chef" do ano e nomeada "Embaixadora da Boa Vontade da Difusão da Culinária Japonesa" pelo governo japonês. Ufa. Com vocês, Telma Shiraishi:

Precisei me provar muito mais [por ser mulher]. Antes ficava incomodada com a diferença de tratamento e na dedicação a mais para ter meu trabalho reconhecido, mas foram os desafios que me fizeram ir além e moldaram minha filosofia e estilo de trabalho

Nem mesmo os obstáculos da cultura foram o suficiente para travar a trajetória de Telma Shiraishi, trilhada com sucesso: conquistou não só o paladar criterioso dos paulistanos e da crítica especializada, mas também o respeito de toda uma (exigente) comunidade japonesa.

A criadora do "Água no Feijão", projeto social fundado na pandemia que já distribuiu mais de 200 mil marmitas a pessoas em situação de vulnerabilidade social, e titular das duas unidades do premiado Aizomê, é afiada nas facas — nas palavras também.

"Minha esperança é que sejamos muitas mais. E que não tenhamos as mesmas dificuldades de acesso e de reconhecimento. Que tenhamos igualdade de condições, de oportunidades, de respeito e de segurança nos ambientes de trabalho", vislumbra a chefona.

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