Manjar com calda de água de coco, de Viko Tangoda, parece uma nuvem de tão macio

A sobremesa tipicamente brasileira ganha releitura sofisticada com toques de genialidade do chef ousado; saiba mais

Por Júlia Cabral

Manjar com calda de água de coco, de Viko Tangoda, parece uma nuvem de tão macio
Manjar com calda de água de coco
Ricardo Dangelo

Viko Tangoda tem uma história digna de filme. Se fosse o caso, este poderia fazer parte do cinema do cineasta espanhol Pedro Almodóvar, marcado pelas transgressões, paleta de cores ousadas e humor irreverente — alguns dos elementos que trilharam o caminho do chef que saiu de Fernandópolis, no interior de São Paulo, e foi morar sozinho na capital paulista aos 13 anos de idade.

Tangoda se formou em eletrotécnica. Entrou na faculdade de gastronomia. Criou a moderna rotisserie Moma e um buffet que rendeu o projeto Instituto Mesa Solidária, com distribuição de refeições para a população em situação de rua. Mudou-se para a Bahia e, com outros sonhadores, abriu os caminhos do Seu Beira Mar, capitaneado pelo banqueteiro. 

O nome faz jus ao orixá protetor das praias e dos mares Ogum Beira-Mar, uma das entidades de religiões de matriz africana. E é assim, saudando à figura divina, que Tangoda prepara suas próprias divindades: crisps de shari com tartare de camarão, isca de cioba empanada na cerveja acompanhado de molho de nam pla com hortelã, polvo na brasa com salsa de azeitonas pretas e purê de berinjela.

Eu sempre amei a praia e o mar. O meu caminho é muito claro.

O capitão é exigente. Ele se responsabiliza pela playlist de música, dá pitaco na (belíssima) decoração do restaurante, assinada por Elaine Camacho, porque “comer é uma experiência por completo” e engendra as criações gastronômicas que integram o cardápio elaborado.

Entre elas, está o manjar ao consommé de coco e frutas tropicais, um prato à parte, em todos os sentidos. Nasceu da memória afetiva de Tangoda, mas criou corpo pelo desafio de um evento gastronômico no Sul da Bahia, o Festival Temperos de Cabrália, que realizou a segunda edição em julho deste ano, com o tema “sabores que vêm das águas”.

As primeiras tentativas da sobremesa foram com ágar-ágar, uma microalga que possui propriedade espessante, mas o resultado final se deu com a água de coco temperada para criar textura e acidez ao prato antológico e absolutamente genial.

É uma sobremesa delicada, que cai com conforto e muita leveza graças ao consommé aquoso. A guirlanda de frutas tropicais traz ainda mais frescor e textura ao doce não tão doce que flutuam em cima da calda perfeita. 

A jornalista viajou para o Festival Temperos de Cabrália a convite da Secretaria de Turismo de Santa Cruz Cabrália, que teve apoio da SEBRAE, Porto Azul Receptivo e Azul Viagens.

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