De influência africana, o acarajé é a perfeita comida de rua e atrai moradores e turistas que visitam Salvador. Feito com feijão fradinho no azeite de dendê, é recheado com vatapá, caruru, camarão e pimenta. Ele é tão importante que foi declarado Patrimônio Imaterial na Bahia, como mostrou o ‘Minha Receita’.
Mas como surgiu o acarajé? A partir do século 18, as escravas, conhecidas como “ganhadeiras”, iam às ruas vender diversos tipos de comida. Com o dinheiro das vendas, elas comparam a alforria de muita gente e viraram símbolo de resistência. A história virou tradição. Na capital baiana, é difícil escolher entre o mais gostoso, mas o Minha Receita, comandado por Erick Jacquin, visitou dois lugares indispensáveis para provar os famosos bolinhos.
Acarajé da Cira
O Acarajé da Cira, um dos mais famosos na cidade de Salvador, é vendido em dois pontos: o primeiro é em Itapuã e o segundo em Rio Vermelho. Ali trabalham cinco mulheres para vender um dos bolinhos mais famosos da região. “Como a escrava não tinha como ganhar o pão, ela vinha até na rua vender os quitutes. Tanto que antigamente só homem podia comprar. Mulheres e crianças não compravam”, conta Jussara, uma das vendedoras da barraca da Cira.
Segundo ela, o quitute era conhecido como o bolo do pecado. Não à toa, na língua iorubá, “acará” significa bola de fogo e “jé” é o ato de comer. Ou seja, “comer bola de fogo”. Hoje, o pecado é visitar a Bahia e não provar um. E quem quiser matar a vontade pode visitar o Acarajé da Cira no Largo Mariquita, em Rio Vermelho, que abre diariamente.
Feito com feijão fradinho no azeite de dendê, o acarajé é recheado com vatapá, caruru, camarão e pimenta
Acarajé da Dinha
Também no Rio Vermelho fica o Acarajé da Dinha, que existe desde 1944 e tem o diferencial por ser servido no pratinho. Originalmente, o acarajé não levava recheio, nem acompanhamento, mas com o tempo foi se incrementando até virar uma refeição. E o quitute caprichado da Dinha é prova disso. Tradição em mais de quatro gerações da família, hoje ele é comandado pela cozinheira e empresária Elaine. “Nós comercializamos o acarajé, mas essa é uma comida oriunda de matriz africana. É uma comida sagrada, oferendada para Iansã. A vendedora de acarajé é a primeira mulher negra empreendedora do Brasil”, diz.
Assim como o acarajé, a indumentária da baiana também foi tombada como patrimônio nacional. “Existe hoje um decreto pré-estabelecido entre a Associação das Baianas e a Prefeitura onde nós devemos manter a padronização dos tabuleiros. Ou seja, temos que estar com turbante, bata e saia.”
A movimentada barraca da Dinha fica no Largo de Santana e segue à risca toda a tradição que o acarajé e a Bahia têm. Visita mais do que merecida!