"Se alguém te fechar a porta, entre pela janela", diz Alessandra Montagne, brasileira que nasceu no Morro do Vidigal e, hoje, comanda o restaurante do Museu do Louvre, em Paris. Aos 46 anos, a chef ostenta um currículo impressionante e já está dentro da cúpula de mais alto escalão na gastronomia francesa.
Alessandra comprova a teoria das oportunidades com uma história digna de filme: nasceu na periferia do Rio de Janeiro, foi entregue pela mãe aos avós ainda pequena e, mais tarde, começou a vender coxinha para pagar as contas e tentar a vida na europa.
Deu certo. Sucesso em Paris, a carioca brilhou os olhos de Alain Ducasse, chef que já acumula mais de 20 estrelas Michelin e está entre os melhores do mundo — ele é um dos únicos a ter três restaurantes com três estrelas cada, a classificação mais alta da instituição.
O talento da brasileira foi o que a garantiu ser escolhida para fazer parte do seleto grupo que comandará a experiência gastronômica no museu mais conhecido e visitado do mundo. Em entrevista exclusiva ao Band.com.br, ela fala sobre o caminho que percorreu até aqui.
Ser mulher
A história de Alessandra é um prato cheio para corroborar a meritocracia, mas ela, que é mulher e latina, sabe que nem todos partem do mesmo lugar. “Ainda falta muito pra chegarmos a uma paridade, mas acredito que estamos em um bom caminho", inspira a chef.
Sinceramente, aqui na França ser mulher não me empacou, mas encontrei obstáculos. Aí procurei outro caminho
Ser brasileira
Semelhante ao passado da gastronomia brasileira e, certamente, à de outros países, a história da cozinha francesa profissional começou sem mulheres. Segundo Alessandra, elas eram proibidas de ingressar na escola de administração hoteleira até 1980.
"Acho que aos poucos estamos conquistando nosso lugar", profetiza a chef, que também enxerga mudanças no Brasil: "Fico sempre muito feliz em ver minhas companheiras aparecendo, cozinhando e construindo".
Vejo isso acontecer com grandes chefs brasileiras reconhecidas internacionalmente, como a Roberta Sudbrack, a Janaína Torres Rueda, a Manu Buffara ou a Tassia Magalhães
Uma experiência universal
Não é porque Alessandra está no topo gastronômico que foi blindada do que acomete profissionais mulheres ao redor do mundo, dentro e fora da cozinha. É o que ela conta sobre um evento super importante, nas suas palavras, onde foi subestimada pelos colegas homens.
Tive que agir com firmeza e impor respeito. Isso não foi necessário com os outros chefs homens do evento, por exemplo
Outra situação desagradável é quando confundem qualquer homem na cozinha — estagiário, aprendiz, chef de partida — com o chef. “E comigo do lado", complementa Alessandra. "Quando falam que sou eu, tem aquele desconforto!", encerra rindo.